20070531

It's a big, big world

“I don’t want to be depressed any longer. This is the end. For now on, I’m going to smile 16/24 hours, (because I’ll have to sleep to, you know, happy people don’t get insomnias, do they?) I’m going to work hard and study hard all fuckyng books and chapters that I have stored in the attic. And I’m returning to my passed “I don’t think I don’t care” mood, I’ll just live for today but I won’t care about any metaphysic problems that grow up in these stupid books. ‘Cause I have finally identified my problem. I read too much confusing books. And its society, and TV, and parents who try to mislead us saying reading books is a good thing. I’m telling you here, some books are evil. Some books have the power to make you think in things that have the power to make you cry. And I’ve read them, so many of them. And after them, movies inspired by them. And I’ve downloaded pictures inspired by these movies.
Actually life is already too depressing without any of these cultural jewels. My mamma would say – leave the books on the shelves and you head in university – but unfortunately, I haven’t inherited her brains. And as you all know, I quite dislike university. That is just one of my problems. Probably the most important one, at least at long-time terms. But right now, there are some other things to think about. You don’t know me well enough to know them, and some times, neither do I. Because sometimes there are just too many of them wandering in my head and the only solution I can find is to fly away… from me. Weird? Well, maybe I’m weird. Or maybe I just read too many books! Any way, I feel like I’m out of here, like it doesn’t matter if I win or fail, if I pass or flunk, if I live or dye. And It’s definitely easier, but I’ never 100% here, nor 100% there. I’m live-dead or dead-alive, but not any of this things for certain. At this point (if my mother ever read what I write) she would be yearning to an end, with a very impatient look or her face. That’s my mom. She suffered a big-deal in her life so she doesn’t understand how well-raised and well-secured teenagers can suffer. And she’s right. I have everything I could ever want. Maybe that’s part of the problem. I should wand more. As she once said “you must be ambitious if you want to be someone in life” – well I don’t. And I’m not. I’m just waiting… to be killed. By time, by a car, by a disease. Just waiting. And now that I think about it this is quite depressing. And sad. I didn’t mean to be sad, or a victim. I know that I have friends that think that I do. They’re good friends; they just don’t like sad people. They like happy people. Everybody does, really. The more good-intentioned you are, someday you get tired of talking with a person who is 22/24 hours with a bad/depressing humor.
But today, I don’t want to be depressed any more. I want to get up and fight whatever is the obstacle that sands right ahead. I want to be like my mother, and to live like all those persons who I see in school. I don’t want to be sad.” – said the little ant just before someone crushed her.

20070530

Vareja

Era uma vez uma mosca varejeira sã que sabia que era Napoleão. E antes que pensem nisso, não - ela não pertencia no manicómio. Porque apesar do que as medíocres cabeças humanas possam pensar, a mosca varejeira verdadeiramente acreditava que era Napoleão - e a isso chama-se fé, não loucura. Por outro lado, não há estudos que comprovem que as moscas varejeiras têm o que podemos chamar de inteligência, e por isso uma mosca varejeira sã que sabe que é Napoleão não se enquadra em lado nenhum. Continuando. Esta mosca era, como era de esperar, portuguesa - (se não não se chamava varejeira, mas Blowfly Maggot, ou outra coisa qualquer) e planeava desde larva, uma viagem à França, onde acreditava que o seu destino ia ser revelado. No entanto, as moscas só vivem 24horas! E se a manhã a mosca passou a engendrar o seu maravilhoso plano (como sabem, as moscas não são dotadas de uma grande velocidade de pensamento), depois do meio dia já tinha poucas horas para o executar. Voou até ao Aeroporto de Lisboa, e a muito custo poisou dentro da aba de um boné. E aí foi, muito quieta (novamente, algo que toda a gente sabe ser muito dificil para as moscas varejeiras portuguesas). O voo chegou às 19:30, e a mosca sofria de um profundo jet lag. Mas nem isso a fez parar. Levantou voo, meio aos trambulhões, tentou por em prática o seu espírito de liderança com as outras moscas - Venham! Toda a riqueza dos macacos de duas pernas será nossa! Não seremos mais obrigadas a fugir! Conquistaremos a França, e depois a Europa, e depois o Mundo!

Eu sei que vocês não fazem ideia, mas as moscas são extremamente ambiciosas. Assim como nós. Então, mesmo com a barreira da língua, não foi difícil convence-la. Uniram-se em frentes para atacar, primeiro, os líderes. "Porque sem líderes, um povo fica mais perdido!" Entraram pelas janelas - milhares de moscas - e saltaram para cima de Sarkozy caminhando rapidamente com as suas patas peludas - começaram por por ovos nos projectos-lei e obstruir os telefones, emaranharam o cabelo das secretárias... mas rapidamente e vindo do nada o poderoso spray anti-insecto descolou-as de todos os lugares. As moscas, aos milhares, caíram no chão arqueando os corpos e tremelicando as patas. Os olhos brilharam por uma última vez, antes de todas se contraírem e secarem na espuma química.
Só a mosca varejeira conseguiu fugir. Cambaleou, intoxicada, envenenada, até à estátua de napleão. Deixou-se cair no dorso. Talvez, na próxima reencarnação - pensou, antes de morrer também, paralizando-se no sol escaldante.
Talvez na próxima reencarnação - porque para os que pensam
a mente está sempre acima da matéria.

20070526

A minha cabeça dói

Eu preferia que gritasses. E com os polegares marcando-me as costas, que me abanasses o corpo doloroso. Que me dissesses palavras aguçadas, que me cortasses com elas o coração em farrapos.

Não me apetece ver ninguém. Não me apetece mover-me sequer. O breve movimento das minhas mãos sobre o teclado pesa-me nos músculos dos braços e na nuca. Respirar custa, como se nunca o tivesse feito. Não me apetece ver - não quero ver ninguém. Mas quero um abraço. Um abraço quente que me envolva noutra coisa qualquer que não este mundo. Quero sentir a pele de alguém contra a minha, quero um segundo só! Um segundo só de vida por o que parece uma eternidade de farrapos moribundos. Respirar custa. Pensar dói.

Deixaste tertúlias de odor na minha almofada, e ela não me deixa esquecer-te. Mas o sono esquece-te, transformando o teu rosto num emaranhado de manchas cremes. Só me lembro dos teus olhos cruzados de veias vermelhas. Só me lembro do teu carinho [a minha cabeça dói]. Se voltares já... volta! Se voltares eu peço perdão! Mas não voltas, e o perdão não chega, e choras porque eu choro e eu nem sei porquê!

Não posso continuar assim.
Tem de ser.
Será que já chegaste?

(riso)

(silêncio)

As palavras escapam às nossas bocas ou nós escapamos ao entendimento?
O que fica são perguntas em aberto. Sempre perguntas em aberto, porque as respostas multiplicam-se em palavras de costas voltadas.

Se calhar é tudo muito simples, e os meus olhos estão sujos.
Mas só vejo perguntas, e nem percepciono o sentido.

- Chorava balançando-se na janela. E ele dizia (chora, que faz bem à alma). Mas não fazia - faz bem ao corpo. Faz bem à efemeridade, à vociferação do momento, faz bem ao ponto final. E é por isso que ela chora agora. Porque às vezes ela ria, mas não para sempre. Mas ele ria sempre. E ele dizia (rir é a cura para todos os males). Mas não era - pelo menos não o riso dele.

- A culpa era dela. Nunca se deixara passar de um par de ligas vermelhas - daquelas que só se vêm nos filmes, e que só neles capturam o seu sentido. Um par de ligas vermelhas, atraentes, que circundavam a sua normalidade de um ponteado vermelho-escarlate. *Ah, se ela soubesse* E sabia. No fundo sabia que enquanto aceitasse aquele presente, seria como ele: um toque de sexo e um sorriso largo. Não um sorriso, um riso. Um gozo. E assim continuou o tempo, arrastando-a numas ligas pretas com laços vermelho-escarlate.

- E o tempo passa (mesmo sem sermos todos cães vagabundos). Mas nem muda assim tanto. O tecido é o mesmo. E ela vestia outras coisas, mas na sua mente estavam sempre as ligas. O seu fato sóbrio, preto, escurecia-lhe até a pele. Mas ele ria. E ela falava. E ele ria. E ela movia-se - e ele ria novamente. Porque tinha graça. Porque sim. Porque ela o fazia rir, incessantemente, com tudo o que dizia e fazia sem ser... chorar. (Se parares quieta) dizia ele, (se parares eu não me rio mais). Se tivesse parado de falar, se tivesse parado de dizer, de pensar - ele parava de rir. Durante uns tempos chorou - mas ninguém pode chorar para sempre. Durante uns tempos seleccionou todas as palavras que dizia à sua frente. Mas é cansativo, e passado pouco tempo, já não havia palavras. Havia

(silêncio)

e uma data de perguntas a fazer.

- Não posso chorar mais - dizia - e não posso mais ouvir-te rir. Prefiro votar-nos ao silêncio a viver como uma piada ambulante. Porque se tu não vês mais em mim do que um par de risos - e se o vês, só o mostras quando choro - eu não posso ver mais em ti do que um voto de silêncio. Não posso chorar mais - fungava - só isso. E depois chorou.

20070522

Se pudesse procurar o que te faz chorar no Google, mas duvido que encontrasse.

Só sei se me disseres.

História de amor

Era uma vez uma flor carnívora e um dente-de-leão. A flor carnívora era daquelas flores que só era bonita aos olhos de quem a via. E esta em questão, nem por isso era muito colorida. Ninguém sabia quem a tinha magoado - e ninguém perguntava - (porque eram) assuntos pessoais. E a gigantesca flor carnívora, pouco balançava ao vento, mas gemia - naquela língua silenciosa das plantas que pouca gente fala.
Gemia porque no seu interior um bocadinho de tecido tinha sido rasgado, sem ninguém reparar - e à vista de todos. E a flor gemia. E os dias passavam.
As flores não aguentam muito tempo, por si só. E muito menos quando estão rasgadas, porque vão secando e morrendo, ficando amareladas à medida que as horas passam. Depois estaladiças até se partirem com a mais leve brisa de sol. Foi isso que aconteceu à grande flor carnívora. Secou, pouco a pouco, tirando a beleza de todo o jardim com o seu aspecto. Qualquer flor que se aproximasse sentia o cheiro a morte que ela exalava. E mesmo que, por alguma razão, não sentissem aquele presságio fétido, ela própria afastava-as consciente que as suas raízes não aguentariam a disputa de água que implica o contacto mais próximo.
Ora um dia uma erva daninha cresceu atrás da flor carnívora, sem que ela se apercebesse. As ervas daninhas têm esse dom, de crescer depressa e sem serem vistas. De um dia para o outro lá estava. E as suas raízes finas enrodilharam-se na da moribunda, e pingavam água para as suas. A flor carnívora não queria, mas habituou-se. O hábito é um sintoma perturbador - e passado algum tempo até sentiria a diferença se ela se fosse embora. Mais algum tempo sentia falta. Mais tempo e sentia saudade. E quando à noite a erva daninha dormia, a flor carnívora sentia saudade, e ansiava que o sol nascesse para poder ouvir as joaninha a treparem o seu caule e o vento a dançar com as suas flores. Havia dias em que a erva-daninha estava triste, e chorava - e a planta carnívora aprendeu a confortá-la, aprendeu, habituou-se - e até gostava.
A erva daninha também não era perfeita e por vezes deixava escapar leves secreções de hábito, e pensava para consigo - como a flor carnívora era diferente das outras. Primeiro essa diferença atraíu-o a brotar por ali. Mas agora, agora que via as outras no outro canteiro, com as pétalas brancas e vermelhas viradas para o sol, tudo aquilo lhe parecia horrivelmente... aborrecido. Não queria magoar a planta, não tinha nada a ver com isso. Mas quando a primavera brilhou no jardim e a planta carnívora continuou igual, não podia evitar admirá-las! Foi assim que começou, inconscientemente (porque as plantas têm uma consciência muito limitada), a planear soltar-se e voar para o outro lado.
A planta carnívora, muito antes disto, avisada pelas feridas abertas, tentou deslocar as suas raízes. Mas cada posição era mais desconfortável que a outra; a erva daninha não reparava mas tecia comentários que, tendo como intenção trazer-lhe um sorriso às pétalas, eram como pequenas gotas ácidas nos veios doentes da planta carnívora. Porque ela não era tão grande como parecia, e o seu centro já seco doía-lhe como nunca. Lutou para se afastar. E nada. Nem um milímetro se consegua mexer.

Antes que a erva daninha voasse para longe,
a flor carnívora secou e apodreceu no chão.
(Das suas energias nasceram outras, mais bonitas,
e com histórias de amor tão mais legíveis que esta).

E foi melhor assim. Fim

20070521

Vinni my love

Mim estar apaixonada por Vinni Puh de khytruc. Mi gosta muuuito. Pena n haver cm muitas subtitles... o primeiro é tão giro.. mas cá vai o que encontrei, se alguém souber de mais imploro q avisem.. :P

Nunca gostei do outro.

Vinni Puh site!!

Moldura

A maior ambição da "madama" era caber numa moldura perfeita. Mas, apesar da nobreza de carácter, madama era de famílias não muito abastadas, e por isso não teria jamais uma moldura feita à medida.
O primeiro passo foi seleccionar qual das molduras disponíveis no mercado social. Claro que madama já tinha uma singela moldura, com um pequeno limite preto e branco que combinava muito bem com o seu papel - mas ela queria mais. Ela queria uma moldura como aquelas que via passear nas paredes mais altas: aquelas molduras de estilo rococó que reflectiam a luz do sol de dia e emanavam reflexos dourados à noite.
- Ah... quem me dera ter uma moldura tão dourada que até o sol sentisse inveja...! - murmurava madama, à noite.
O pior é que a madama teve poucas oportunidades na vida, e em breve todas as suas amigas já tinham molduras modernas, redondas, mágicas e suspensas. E ela ouvia os seus sorrisinhos arratados, que caiam como pequenas facas no seu ego.

Como ia dizendo, madama seleccionou a moldura que lhe convinha. E passado algum tempo, com muito, muito esforço, subiu mais um bocadinho na parede. Sobre a sua moldura cresceram bolinhas coloridas - e ela era agora uma moldura de estilo moderno. Mas lá em cima, algumas amigas ainda tertuliavam, acusando-a de ter uma moldura popular. E madama batalhou, batalhou, desviou verdades, manipulou... até ter a sua bela moldura rococó. Mas já não lhe era suficiente. Queria duplamente rococó. Triplamente rococó. Subiu na parede até ultrapassar o teto e colar-se às nuvens. Quadruplamente rococó. Já só sobrava um pequeno quadrado de madama, a espreitar da sua monumental moldura. Quintuplamente rococó - as camadas e camadas de ouro talhado começaram a sufocá-la. Mas já tinha perdido tanto e lutado tanto... E se ultrapassasse o céu, e se ultrapassasse as estrelas, os astros, e chegasse ao infinito?!

Mas quando chegou lá em cima, ao absoluto, ao grande vazio... era... um pouco vazio. E.. um pouco sufocante...

Talvez se a moldura fosse maior a vissem...

(e depois... a moldura cobriu-lhe a face, e madama despareceu pa sempre.)

[plágio da monstra]

Ambivalente

Ela tem uma cara simpática. E é simpática. Mas também não o é - e como não é, decididamente, concreta (sem ser o seu corpo curvado), não precisa de ser bivalente. É mórbida, e sádica, e gosta de chocar as pessoas porque está farta que elas a choquem com coisas normais e queridas. Ri-se de boca aberta e chora de cigarro na boca. E sabe o que quer, mas não quer aquilo que sabe que quer. E às vezes fica calada, durante muito tempo... enquanto canta. E ás vezes não.
Pode-se dizer que ela é extremista. Na verdade, ela é muito extremista. Mas não pode evitar sê-lo porque é a única coisa que sabe com certeza que é.
Ela é simpática. Muito simpática. Mas também não o é, um pouco como toda a gente, mas de forma mais exagerada. E não sabe se o é para chocar - só sabe que o choca sendo. E isso ora a alimenta, ora a mata por dentro. Hoje foi um destes - e quase que dos outros.

Conclusão: assim como as expressões não-lógicas são discriminadas na lógica formal, as expressões lógicas não podem ser aplicadas à lógica pessoal sem que se perca metade do seu valor. Porque as pessoas não têm métodos formais lógicos, nem construções formais, pelo contrário - se é que existe um contrário passível de ser verbalizado!

20070520

O poço dos desejos

Yoruyume-san era ainda um jovem rapaz quando encontrou um poço dos desejos atrás da casa da sua avó, no Norte. Agora, para aqueles que nunca viram um poço dos desejos, é certamente difícil imaginarem-no, mas vou tentar descrevê-lo como Yoroyume o viu: de longe, era como um muro em círculo, um muro de pedra creme rugosa, com carácteres romanos escritos em toda a sua volta. Pensar-se-ia que as suas pedras estivessem escuras e gastas como nos filmes, e no entanto eram claras e macias ao toque. De perto, via-se as magníficas pedras preciosas que tinha incrustadas no topo, e as flores raríssimas que cresciam à sua volta, bebendo a sua água mágica. Em cima tinha um pequeno tejadilho verde-escuro, que protegia do sol que (só naquele lugar) batia directamente, já que se abria uma pequena clareira entre os pinheiros selvagens. Do tejadilho pendiam finíssimos tubos de metal que ao balançarem ao vento tirlintavam. O calor abafava naquela tarde de fins de primavera, e o pequeno Yoru sentou-se ao lado do muro, à sombra do tejadilho. As tábuas de madeira estavam desenhadas a fio de ouro, e pequenas moscas-fadas brilhantes saltavam e dançavam entre elas de cabeça para baixo (porque como toda a gente sabe, o mundo das fadas é ao contrário). Encantado com as suas vozes mágicas e com as cores dos seus olhos, o menino começou a escavar no fundo do bolso das calças de ganga, até encontrar cinco escudos mesmo colados a um bocado de rebuçado derretido. Depois de a limpar convenientemente deixando apenas alguns bocadinhos de corante vermelho entre as bordas da moeda, levantou-se e espreitou lá para baixo. O poço era fundo, mas do seu fundo não vinha um ar abafado nem tropical - vinha um fumo, uma aragem fresca com odor a baunilha e a arroz doce - e a canela! Dobrou a língua, fechou os olhos com muita força e pos-se na posição em que se pedem os desejos aos poços dos desejos (de pé coxinho, com a mão direita atrás das costas e a mão esquerda o mais no ar possível). Depois gritou bem alto: "Poço dos desejos, fadas magicas do poço, concedam-me este desejo!" e abriu a mão, largando a moeda que caiu lentamente, como se o ar no poço fosse diferente. Foi então que se lembrou - mas qual desejo?! Oh não... pois sim, o pequeno Yoru esquecera-se do desejo. Girou as rodas dentadas do cérebro o mais rápido possível - queria que o pai voltasse - queria que o desenho que pintara atrás do sofá desaparecesse - queria que todos andassem atrás dele na escola:

- Quero ser feliz! -

toc!

(mesmo a tempo da moeda cair no fundo do poço)

Yoruyume-san não sabia bem porque tinha dito aquilo. Talvez ao pensar nas sardinhas da vizinha...! E as moscas-fadas ficaram de repente com um ar muito chateado e ofendido, a andarem de um lado para o outro tão depressa que até a cabeça lhe doía! Uma delas pairou no centro do poço e estendeu a mão. Parecia querer fazer as pazes, como as professoras obrigavam lá na escola. O que quer que ele tivesse feito para as ofender tanto... assim estaria resolvido. Yoruyume estendeu o braço, esticou-o o mais que pode e empoleirou-se na berma para conseguir lá chegar. Quando o seu dedo indicador tocou na pequena mão da mosca-fada, um sorriso maldoso e disforme emergiu na cara da fada, e os seus olhos tornaram-se pequeninos, pequeninos... Foi então que Yoroyume olhou para baixo e se apercebeu que caía. Mais tarde diria que a queda dentro daquele poço era como mergulhar em espuma de sabão: o as parecia feito de almofadas de penas (ou talvez esse fosse um sonho). Estava a cair, atrás da moeda, no fundo do poço mágico. E caía... caía... tão devagar que não resistiu, e, depois das lágrimas terem voado, adormeceu a fungar encostado a uma lufada de ar.

Tenho medo do escuro e só consigo dormir de manhã. E agora, como é que eu vivo?

Dói

Quando te toquei, pensei, articulei inconscientemente - que gostava de ti.
E quando articulei conscientemente que gostava de ti, pensei que talvez só te queria tocar.
E agora pergunto-te, qual é a lógica afinal?
É que as coisas não são lógicas e não têm sempre raciocínios concretos e lógicas e provas.
O que acontece é que somos pessoas e por isso sentimos por fora e por dentro.
No preto e no branco.
E mais do que sentir, queremos saber o que sentimos - pensamos: e dói pensar.
E dói não saber.

Mas estar contigo não dói. É só isso que eu sei.

Paz

O certo é que nunca gostei de estar sozinha. A frase "mais vale estar sozinho que mal acompanhado" nunca se aplicou. E nem era por estar desesperada por ter uma qualquer companhia, mas sim por estar desesperada para não estar comigo.

Parecido, mas na minha opinião pior, do que não nos conhecermos a nós mesmos, é conhecermo-nos e termos medo daquilo que conhecemos - e aí está o que acontece comigo. Mas às vezes, por mais amigos que tenhamos, por mais engates e conhecidos, damos por nós sozinhos: de musica ligada e livro na mão. E assim, sozinha, como raramente estou, estava eu: deitada no meu colchão (a cama partiu-se à meses), de óculos postos, jazz ligado e livro na mão. Mas algo estava mal. Eu acordei.

Agora quando digo "acordei", o que quero dizer é... a minha alma acordou. Aquela que dorme, que é como os írrequietos demónios que só surgem quando menos são esperados. E de qualquer forma, a minha alma ouve muito bem. E ela ouviu que eu estava sozinha, escutou atentamente o silêncio do resto da casa, e espreguiçou-se. Acordou.

Estava a dizer - muito relaxada, (e daí talvez não), na minha posição normal quase adormecida. Foi quando a música se desligou. O receio miudinho que me vibrava nas veias azuis já desde cedo cresceu até se tornar num zumbido palpavél, cortante. O ar à minha volta pesou e explodiu no cão, tornando-o espesso. Não conseguia ver nada - tirei os óculos e espremi os olhos. Foi então que ouvi, claramente, como se alguém estivesse a gritá-lo ao meu lado: "O amor dói!" Foi uma voz anónima, sem sexo, sem som: e no entanto mais real e memorável que memórias reais. Ouvi-a na minha cabeça. Pensei imediatamente que devia ter ficado a dormir na casa da amiga, que tanto tinha insistido. Mas não, numa atitude sem reflexo, decidi vir dormir a casa, sozinha. Levantei-me num salto, instintivamente, e disse em voz alta, "Eu ainda estou aqui, não apareças!". Estava-me a referir, claro, ao fantasma que mora atrás do meu guarda-fato. Mas desta vez, não era ele que falava. Corri para o computador e recoloquei a musica. O som que entretanto se instalara, como um crepitar surdo com ecos limitados, calou-se subitamente. A música salvou-me, para variar. Porque a música, à noite, acalma os ouvidos da alma. E eu preciso de paz para dormir.

20070515

People are strange. We can know someone for ages and not know anything about him, but the color of his hair and (maybe) his eyes. And we can meet someone and in a few seconds understand at least one layer plus deeper, some weird aura that tells us who that person really is. And as insanity as it sounds, sometimes, theoretically, that person may not please us. Actually it may cause us nausea with his opinions and thoughts and words... but at some other level, (and maybe this is the well know chemistry), our different human nature meets in a point where we can learn different points of view just by standing next to a stranger who seems a long-time friend. A friendship like that is a wonderful thing that shines in the good things we carry along life. And do not mix it with love, it has nothing to do with it. It's not love, it's not sex, it's someone who, different as it is, exists in tunning with us. It sound stupid. And like I said, only few people have that magic. There are so many people, and specially those with whom we get evolved too quickly, that have that characteristic, and we loose them cause things can escalate just too fast, and friendship afterwards is practically impossible, cause passed is always ready to go up. But people are strange and unpredictably even when we think they act according to a few variables. And maybe today, just for today, we can count with someone that we had forgot for a long time, and that we've just met.

20070514

O mundo cá fora é grande demais. É tão confortável que o meu crânio aperta-se em pânico contra os meus pensamentos. Era tão bom se tudo fosse incompleto, e transparente, e descontruido. Como os sonhos que beijamos à noite; como os nossos abraços de pele! Mas os sonhos de que gostamos tanto, apesar de imperfeitos e adoráveis, são também efémeros. Esgotam-se no segundo em que brilham - ou no nosso caso, num par de anos! E quando formos só as cascas, os esqueletos do que somos agora - que interesse teremos? Que interesse vais tu ter em mim, que interesse vou eu ter para mim? Daqui a dois ou três anos, quando os sonhos que tenho tiverem delizado pelo tempo, vai valer a pena?

20070508

Prisoners





All prisoners serving life sentences
wait for the earth to suddenly shake
for the walls to somehow suddenly come crumbling, tumbling
and for the bars to somehow magically break
oh there's nothing wrong with them that a thousand books can't fix
that a thousand arms can't hold down
and the ground they're tatooing the stones with cusses like cavemen
your momma was here
they wanna run through the air with no barriers or obstacles
gunmen or guarddogs or priests
and to rise from the mud and start over and over
with the people all dead
uh uh uh uh uh
and hans christian anderson could have had easy his way with me
then none of this shit would have ever gone down
in my cell i'm tatooing myself with mermaids and swallows
and dirt i do swallow
my momma thinks i'm grown but i'm really just little
and someday i will remember
someday i will remember
someday i will remember.

Adoro esta música - e a melodia faz-me realmente arrepios na espinha!! Fala sobre os prisioneiros condenados a prisão perpétua, que sonham com a liberdade... que se esqueceram que são crianças, que não aprenderam as lições que Hans Christian Anderson (que por acaso, escreve fábulas sobre a moral humana) ensinava... fala um bocado da esperança, de um futuro qualquer... um dia...

Ah... a praia. O sol, o mar, a areia colada nas pernas e a praia. As toalhas ásperas, os bikinis largos, as pernas (mal) depiladas e os cães a correr. A praia, a praia, a praia! A água gélida, as correntes frias, o corneto de chocolate e os olhares tarados. A praia!

Realmente não tenho muito para dizer. A praia cansa.

Voltamos amanhã?

20070507

Lábios de Plástico

Mordisquei o teu lábio enquanto falavas - e foi aí que descobri - que os teus lábios eram de plástico. Mas no desabrochar do nosso carinho, vi-os claramente com a textura das mangas maduras - com o seu sarapintado vermelho e perfume doce.

Não, não cheiravas a mangas maduras.
Cheiravas a pele, e a suor, e a saliva. E um pouco a beijos (leves, atrás da orelha). Então pus-me em bicos de pés e observei com mais atenção.

Os teus lábios quietos pareciam um mapa desenhado - mil veios trocados (tocados) e um tom de por do sol. (Mas) ah... se o mundo todo coubesse no espaço que sobra entre os teus lábios e os meus, era pouco.

As palavras sabiam a pouco. E tu sabias a muito (pouco).
Há lábios assim, que podia beijar para sempre.

A Sombra do Samurai

Ainda estou na ressaca deste filme. Quem me conhece sabe que a ressaca ainda demora um bocadinho, e entretanto fico completamente impávida, como que mergulhada na sua atmosfera.
E como não??

A sombra do samurai é um filme verdadeiramente a não perder. Desde todo o ambiente que envolve a história - Japão antes da união - que foi incrivelmente construído - as casas, o vestuário, etc; até à história de um homem como nunca tinha visto retratado - que apesar da sua indubitável masculinidade, escolhe ter uma vida mais difícil para poder ver as filhas crescer, de perto. Talvez não seja muito realista. Mas é a história de um homem que, sem muitas ambições e sem ter uma vida dentro dos padrões em que engaiolamos a felicidade, é sortudo. Porque tem uma vida rica de experiências, porque luta pelo que acredita, porque é honrado - não nos padrões dos outros, mas naqueles do seu coração. É um drama -é. Mas um drama de coragem. Não esperem um filme de acção e luta - esperem comover-se com cada embate da espada, com cada passo da personagem. Mesmo o confronto mortal é um momento de reflexão e surpreende a cada milésimo de segundo - não é pelo meu deslumbre, mas este filme é dos melhores que já vi.

A não perder. Pela história tocante, pelo cenário, pelo pouco conhecimento que o ocidente, tão deslumbrado com o Oriente, tem das suas estórias.

O Desvio

Há quem diga que temos uma relação especial com o absoluto. Que somos a imagem do Eterno. E há quem diga que somos mais uma bactéria a tentar sobreviver. De qualquer das formas, porque somos como somos, porque alguém nos fez assim, ou porque as evolução, e as épocas, nos construíram e desconstruíram em desvios normalizastes do que é - só mais uma espécie?

Se ser diferente é ser o desvio, ser o normal não foi também já o desvio de alguma coisa?
Porque se nada no mundo é completamente original a partir da eclosão do "tudo", não são todas as coisas reacção e ao mesmo tempo desvio - ou seja o desvio não é normal?