Desceu ao fundo do poço pelas escadas de algodão (amargo) - ou seja - caiu e além disso tinha sérias alucinações. As pequenas almofadas negras que via ao descer não eram mais que restícios da luz que se estinguia a uma velocidade vertiginosa, que espicaçava os olhos a lacrimejarem. caiu e sentiu uma dor atroz - como ninguém pode entender. Quebrou todos os ossos do corpo. até ao mais ínfimo. Os músculos agonizaram contraídos contra o gelo glacial do fundo do poço. Queria gritar, mas a garganta ardia-lhe e mal respirava. Mas se queria que tudo ficasse bem, precisava de chegar ainda mais fundo. A pá que atirara estava intacta. Coxeou até ela, apalpando a parede rugosa na luz escura. Agarrou-a com as duas mãos (as articulações dos dedos estalaram) e começou a escavar.
20070724
20070723
O que fica no meio (parte 1 de 3)
20070717
Nódoa Negra
Se me ardesse um pouco menos a garganta, gritava: estou a apaixonar-me. Mas doi-me, por dentro e por fora, contra-arte em circulos vermelhos no inicio da minha língua. E por isso, apenas murmuro sem som. Sílabas vazias como nós acabamos por ser, enterrados vivos por tantas palavras e pensamentos. Já nem somos a dor em si, a pancada da paixão na pele dorida, não somos a lâmina nem o fogo: somos a nódoa negra que fica e emerge, dia a noite, numa pele fina e fria.Porque estava - estava - a apaixonar-me. E entretanto, com um futuro tão prometedos como era naquele instante.. ficámo-nos apenas pela rouquidão. E pergunto ao outro lado se isso chega: e claro que chega. Chega o corpo, chega a pele, o silêncio da exigência que temos um do outro. Ou chegaria, se um dia, eu não tivesse pensado que me estava a apaixonar.