Nódoa Negra
Se me ardesse um pouco menos a garganta, gritava: estou a apaixonar-me. Mas doi-me, por dentro e por fora, contra-arte em circulos vermelhos no inicio da minha língua. E por isso, apenas murmuro sem som. Sílabas vazias como nós acabamos por ser, enterrados vivos por tantas palavras e pensamentos. Já nem somos a dor em si, a pancada da paixão na pele dorida, não somos a lâmina nem o fogo: somos a nódoa negra que fica e emerge, dia a noite, numa pele fina e fria.Porque estava - estava - a apaixonar-me. E entretanto, com um futuro tão prometedos como era naquele instante.. ficámo-nos apenas pela rouquidão. E pergunto ao outro lado se isso chega: e claro que chega. Chega o corpo, chega a pele, o silêncio da exigência que temos um do outro. Ou chegaria, se um dia, eu não tivesse pensado que me estava a apaixonar.
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