20070821

Há algo agora que não existia antes. Isso é certo. Mas mais que isso, há algo agora que subtrai a nossa proximidade, e torna o espaço maior e os nossos pensamentos mais distantes. Mas eu não sei dar-lhe nome. Talvez por isso tenha tanto medo.
É que antes, nunca tinha pensado em nada disto, o que me faz pensar que não existia. Cada dia era um dia, e tu entravas nos meus pensamentos tão depressa como saias pela porta do meu apartamento. E fugias pelos ouvidos tão rapidamente como tinhas entrado. Entregavas-me o teu corpo e os alguns enlaces da tua consciência, e eu sentia-te ali; mesmo quando tu dizias que um vazio crescia na porta do meu prédio. Esse vaco era o mesmo que me dava a certeza de que estava segura, e de que os dois estavamos ali de livre vontade, a aproveirar honestamente os minutos que queríamos aproveitar. E tudo estava bem, de alguma maneira.
Não estou a dizer que pensava que seria para sempre. Como tu bem sabes, eu não acredito no para sempre - principalmente porque tenho uma tendência natural para me entregar a ele e já sofri muito por isso (e isto não sabias tu). E com os anos e as proximidades e des-proximidades que já vivi, antecipo perfeitamente o início do fim. Aquele que se amonta com o pó das palavras não ditas, das opiniões caladas, dos segredos. E foi por isso que desde o início me decidi a ser honesta contigo (mesmo quando achavas que o fazia para te chocar), porque achei que se fosse honesta como nunca tinha sido com ninguém, não haveriam mentiras. Não te contava tudo, como é óbvio, mas as partes que te diziam respeito, na minha opinião. Foi patetisse, porque como eu bem sei, toda a gente esconde coisas. E eu tenho plena consciência, neste momento, que a tua impavidez para com os meus relatos não era tanto honestidade como o era um fingimento. Como o sei, não te posso responder. Mas agora que sei, com provas e teses, aterrei no meio do espaço que foste elaborando entre nós os dois. Talvez até eu o tenha elaborado sem ver.
E o que posso fazer agora quando te sinto sempre tão distante? Estás tão longe que daqui já nem reconheço a pessoa com quem falava ontem. E não sei o que fazer. O meu instinto diz-me para acabar com isto antes que deixe deteriorar o que ainda resta de mim. Mas não sei se é o instinto, ou o medo.

Sem comentários: